Ao contrário do que muitos pensam, o número de cesarianas é bem alto no Brasil, podendo este número chegar a mais de 80% em algumas regiões do país, no que se refere gestantes das classes média e alta. O Brasil é o campeão mundial no número de cesáreas, excepcionalmente no setor privado de saúde. Mas em paralelo a isso, a mobilização do parto humanizado vem ganhando força, tendo o intuito a denúncia das violências obstétricas, a forma natural de parturição venha ser revivescência e os cuidados com o bebê.
A organização mundial de saúde (OMS) define parto normal, ou parto vaginal, como um processo natural pelo qual o bebê nasce através do canal vaginal da mãe, ou seja, aquele que começa espontaneamente, e assim se mantém até o final. Quando bem assistido, com uma gravidez de baixo risco e sem contraindicações, é o mais indicado. O parto normal pode acontecer entre 37ª e a 42ª semana de gestação. O recém-nascido é considerado a termo quando a idade gestacional é de 37 a 42 semanas. O recém-nascido pré-termo nasce com menos de 37 semanas e o recém-nascido pós-termo é um bebê que nasce após 42 semanas.
Como já foi mencionado, parto normal é o mesmo que parto vaginal, em que intervenções podem ser necessárias. Um parto natural é um nome dado para nascimentos sem nenhum tipo de intervenção (como manobras, uso de fórceps, indutores medicamentosos e anestesias). Já um parto humanizado não tem relação com a via de parto em si, mas com as decisões e escolhas da mãe, que precisa ser compartilhada entre a equipe multidisciplinar, e acima de tudo respeitadas. É garanti-lhe que em diversos aspectos como culturais, individuais, psíquicos e emocionais, inclusive de sua família, sejam também respeitadas. Humanizar é isso, é devolver o protagonismo do parto à mulher. Até mesmo num parto normal que demande para uma cesárea, ainda sim, pode ser parte de um parto humanizado, desde que o ambiente, o momento e a mãe sejam dignos de respeito.
Para a mãe:
Vínculo mãe-bebê: permite o contato pele a pele imediatamente após o nascimento.
Liberação de hormônios: durante o parto, o corpo libera ocitocina, também conhecida como o hormônio do amor, que ajuda na amamentação.
Menor tempo de internação hospitalar.
Menor tempo de recuperação na fase de puerpério.
Apresenta menor risco de complicações (hemorragia, infecção puerperal, dor pós-parto).
O útero volta ao tamanho natural mais rapidamente.
Para o bebê:
Tem menor índice de bebês prematuros (nascer antes da hora).
Tem menor chance de alterações respiratórias em recém-nascidos (o mecanismo do parto leva à compressão dos pulmões, o que faz com que o líquido amniótico saia de forma adequada, ajudando o bebê a respirar melhor).
A passagem do bebê pelo canal vaginal traz benefícios para sua imunidade (a flora do canal vaginal da mãe contribui nesse processo).
Favorece o desenvolvimento normal da microbiota (diminui a chance de doenças alérgicas e autoimunes).
Fortalece o sistema neurológico do bebê.
Entende-se que o parto normal apesar de ser o mais indicado, mais seguro e mais benéfico para as mães/bebês, em que há condições de saúde, sempre é importante o respeito às decisões e escolhas da mãe. Por isso, a importância de se informar e entender bem sobre as vias de parto (normal e cesárea) e poder decidir esse momento com base em informações confiáveis e baseadas na ciência. Seja qual for a escolha, é importante que todo o processo siga procedimentos humanizados e seguros para que este momento seja tão especial como deve ser.
A cesárea tem indicação real de realização quando a evolução de trabalho de parto colocar mãe e/ou feto sob risco iminente ou presumido de morte ou morbidade grave:
Placenta prévia/acreta/vasa prévia.
Descolamento Prematuro de Placenta (DPP).
Prolapso de cordão umbilical (antes da dilatação completa).
Infecção por HSV (herpes genital simples com lesão ativa).
Infecção por HIV (sem tratamento antirretroviral e/ou carga viral desconhecida ou maior que 1.000 cópias virais).
Apresentação pélvica/córmica ou transversa.
Macrossomia fetal (em gestantes com diabetes gestacional com USG indicar feto >4500g. Em gestantes sem diabetes gestacional USG indicar feto >5000g).
Gemelaridade, primeiro gemelar não-cefálico ou gestação monoamniótica.
Diante do exposto, a cesárea quando realizada de maneira desnecessária sem indicações reais de realização tende a ter piores desfechos perinatais ao se comparar com a via vaginal, como: maior risco de infecção puerperal, prematuridade e mortalidade neonatal, além de contribuir para elevar o tempo de internação hospitalar. Por isso, que ressaltar a importância da educação em saúde em especial durante o pré-natal, tornando esse momento um espaço de troca de saberes entre as gestantes e os profissionais pre-natalistas é fundamental.
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